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O Homem Cordial - Sérgio Buarque de Holanda


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Sérgio Buarque de Holanda - autor do livro "Raízes do Brasil"

Sérgio Buarque de Holanda é um dos mais importantes sociólogos e historiadores brasileiros, nasceu em São Paulo, no dia 11 de julho de 1902. Uma de suas mais importantes obras foi o livro "Raízes do Brasil", onde apresenta pesquisas históricas feitas a respeito da sociedade brasileira e sua construção, começou suas pesquisas no ano de 1930, quando foi enviado como correspondente brasileiro dos Diários Associados para Polônia, Rússia e Alemanha.


Uma das principais teses apresentadas foi o conceito de "Homem Cordial", onde Sérgio Buarque apresenta a forma como o brasileiro se comporta no dia a dia, é comum pensar que a cordialidade que o autor se refere seja a ser educado, respeitoso e gentil, entretanto a expressão deriva do latim cordis, coração, e significa afetuosidade, ou seja, agir com a emoção. A cordialidade do brasileiro pode ser aplicada em diversas áreas da sociedade, diversos momentos, por exemplo, o "machismo afetivo", onde é comum o sexo masculino pronunciar falas machistas mascaradas pelo afeto, como expressões "Ô lá em casa", "Que tal uma roupa menos chamativa?", “Legal que você conseguiu se estabelecer nessa profissão mesmo sendo mulher”, são frases que parecem inocentes, mas escondem, por trás da cordialidade, um machismo que está entremeado na sociedade, dessa maneira, é normal achar que é algo "besta", que não trás prejuízos, entretanto é uma forma de perpetuação de ações contra a igualdade de gênero.


Com o racismo não é diferente, é normal perceber falas em que as pessoas se sentem constrangidas, mas não percebem o racismo, pois, possui uma máscara afetiva, com palavras escondendo o real significado, por exemplo, "conheci um negro de alma branca", "mas eu tenho amigos negros", "você é um negro bonito/inteligente", "desculpa, é que te vi e achei suspeito", "seu cabelo é macio, pensei que fosse duro", são muitas as expressões que parecem puras, livres de algum preconceito, mas na verdade, possuem uma definição mais profunda e bem mais preconceituosa do que aparenta. É comum dos brasileiros pronunciarem frases como essas no próprio cotidiano, nem sequer percebem, isso acontece, pois a sociedade acostumou-se com a forma que se trata de assuntos como o racismo e o machismo, nem sequer se rebelam, nem criticam a forma como é repassada, uma vez que, está omitida pelas falas afáveis.


É perceptível a forma que a polícia e autoridades tratam de forma diferente pessoas da classe média branca e negros ou periféricos, por exemplo, foi gravado um vídeo de um jovem negro andando de bicicleta, a luz do dia, em um parque público, esse jovem foi parado por dois polícias que o revistaram e perguntaram de quem era a bicicleta, já temendo que isso acontecesse o jovem estava com a nota fiscal da bicicleta para apresentar aos oficiais, que o liberaram logo em seguida. Os oficiais foram cordiais, dado que, nunca fariam isso com um jovem de cor clara, agiram com a emoção, com o racismo entremeado pela afetividade, infelizmente esses casos não acontecem isoladamente, são comuns, só não amplamente divulgados.


Outra forma de percebemos a tese do Homem Cordial é a criação de exceções às regras, querendo alcançar um objetivo de uma forma facilitada. Quando um aluno pede ao professor que lhe de um ponto para poder passar de ano e não repetir é uma forma de cordialidade, querendo criar uma ressalva para não ser prejudicado ou quando se estaciona em uma vaga prioritária, sem ser prioritário, e diz que não irá demorar, será "rapidinho", é a cordialidade tomando conta da situação. Sérgio Buarque de Holanda fala em seu livro sobre como usamos as palavras para causar esse afeto, exemplificando, o uso do diminutivo "inho" traz uma ideia de carinho, afeto a vocábulos ou expressões que não possuem nenhuma afetividade. Por exemplo, é comum dar nomes no diminutivo para santos (São Longuinho, Santa Teresinha, Santo Agostinho), indicando uma proximidade a esses entes, o que não é comum fora do Brasil, onde normalmente, é mais usual uma formalidade e uma fé mais individual, enquanto no Brasil, uma fé mais coletiva.


Levando em conta a criação de exceções às regras, é indispensável citar o patrimonialismo. Em primeiro lugar, o termo se refere a confundir o que é de interesse público e o que é de interesse privado, criado por Max Weber, a expressão foi utilizada na construção do Homem Cordial, dizendo que no Brasil a corrupção é facilitada pela cordialidade, onde os interesses privados são realizados com ajuda do poder público. Por exemplo, em uma escala ínfima, é comum líderes políticos, como prefeitos, governadores e presidentes facilitarem a entrada de um membro de sua família no poder público, somente pela afetividade, confundindo o que é interesse geral (público) e o que é de interesse do dono do poder (privado). Entretanto, a ponto de observação, dizer que pelo brasileiro ser cordial só existe corrupção nas terras tupiniquins é incorreto, posto que, em outros países há corrupção, a teoria diz que a corrupção no Brasil é facilitada pela cordialidade, pela afetividade.


Para finalizar usaremos o exemplo da "cordialidade" japonesa, que não se assemelha à brasileira. O japonês, diferente do brasileiro possui um ritualismo, que é passado de geração para geração, onde lhes é ensinado como se devem tratar seus superiores, seja seu pai, chefe, ou líder político, isso acontece desde a infância e lhe ensinado todas as formas como deve agir perante situações de negociações, familiares e de amizade. Diferente do Brasil, esse ritualismo possui uma extrema formalidade no tratamento das pessoas, não existe diminutivo, afetividade, piadas e outras "artimanhas" brasileiras. Resumidamente, a cultura japonesa presa por um ritualismo ancestral e que sabe definir e separar a afetividade do respeito.


Destarte, é através da cordialidade brasileira que somos reconhecidos através da nossa hospitalidade. Entretanto, Sérgio Buarque faz uma ressalva, o Homem Cordial é muitas vezes superficial, ou seja, em momentos de picos ele não se mantém dessa forma, podendo causar prejuízos para si ou para os outros.

Escrito por Gustavo Leão, formado no ensino médio.

14/02/2021

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